Um esqueleto é feito de proteínas, lípidos e minerais. É composto por osteões, osteócitos e porosidades. Inclui dentes e ossos longos, chatos, curtos e irregulares. É todo ele matéria. Porém, não é apenas isso que o antropólogo biológico especializado neste tipo de restos humanos vê quando o examina. Também vê histórias, identifica hábitos, e reconhece dificuldades e pesares. O esqueleto é uma máquina do tempo que nos dá acesso a vivências do passado; um livro semi-aberto que nos oferece um pequeno vislumbre da vida de uma pessoa que, frequentemente, não deixou qualquer outro registo da sua biografia. O esqueleto é por isso a última oportunidade de contar a sua história às gerações que se lhe seguiram.
Mas quão antiga é essa história? O esqueleto não vem com cartão do cidadão associado e o seu potencial de resistência aos processos de decomposição é de tal forma elevado, que pode facilmente preservar-se durante milénios dificultando a determinação precisa do período em que a pessoa viveu. Felizmente, Willard F. Libby descobriu que a datação por radiocarbono nos poderia, em muitos casos, responder aproximadamente a esta questão que continuamente povoa a cabeça dos arqueólogos. Ele viria a ganhar o Nobel da Química em 1960 graças a esta descoberta que constituiu um progresso fenomenal para o conhecimento do passado. O mecanismo por trás da datação por radiocarbono é muito simples. O carbono 14 decai naturalmente após a morte de um organismo e por isso, medindo o teor que ainda resta é possível estimar há quanto tempo morreu.
Em Sarilhos Grandes, dois esqueletos apresentam datações de radiocarbono especialmente interessantes. Os esqueletos 9 e 22 viveram muito provavelmente entre 1324 e 1625 d.C. (datas calibradas). E os seus conteúdos intestinais apresentavam amido de batata, fazendo deles candidatos a serem as mais antigas evidências do cultivo deste tubérculo comestível em território português. A sua importância nos hábitos alimentares dos portugueses foi e continua a ser eminente. Afinal de contas, que outro alimento acompanha tão bem o bacalhau?
THIS IS NO SMALL POTATOS
A skeleton is made of proteins, lipids, and minerals. It is composed of osteons, osteocytes, and porosities. It includes teeth and long, flat, short, and irregular bones. Therefore, it has an important material presence. However, materiality is not the only skeletal feature that catches the eye of the biological anthropologist specialized in this kind of human remains. Stories, are also seen, habits are also identified, complications and sorrows are also recognized. The skeleton is a time machine that gives us access to past lives; a semi-open book offering us a small glance onto the life of someone who, quite often, left no other record of its biography. Therefore, the skeleton is the last chance of telling its story to the following generations.
However, how old is that story? The skeleton has no associated ID card and its potential to resist decomposition processes is huge, sometimes enabling it to be preserved for millennia thus complicating our task of determining the precise period during which the person lived. Thankfully, Willard F. Libby discovered that radiocarbon dating could, in many cases, help us answer such a question, which is always present in the archaeologist’s mind. He won the Nobel prize for Chemistry in 1960 thanks to this discovery which constituted a major achievement for those studying the past. The mechanism behind radiocarbon dating is quite simple. Carbon 14 naturally decays after the death of an organism and, as a result, it is possible to estimate for how long someone has been dead by measuring its remaining content.
In Sarilhos Grandes, two skeletons provided especially interesting dates. Skeletons 9 and 22 probably lived during the 1324-1625 cal AD timeframe. Their intestinal contents presented potato starch, making them candidates to be the most ancient evidences for the cultivation of this eatable tuber in the Portuguese territory. The importance of the potato in Portuguese food habits was and still is quite major. After all, what other food goes along so well with codfish?
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