TIROS NA IGREJA
O caso que hoje trazemos leva-nos até ao século XIX e para a banalidade da violência na sociedade.
A 24 de Setembro de 1844, estando um Sarilhense a ser sepultado na igreja de São Jorge, três homens passavam à frente do templo cristão, acompanhados de uns bois; tendo o gado ficado assustado com o tocar dos sinos, um deles resolve tentar acalmar os animais com um tiro no objecto que os assustava. Tendo em conta que o edifício visado era a igreja, e o perigo que aquele momento representou, o cabo de Sarilhos apresentou queixa junto do Administrador do Concelho, enviando até os chumbos que acertaram na torre sineira, conforme mostra a participação escrita que aqui partilhamos.
Este pequeno episódio ilustra bem as vivências desta época, onde acontecimentos destes davam cor ao dia-a-dia de uma localidade como Sarilhos Grandes.
------------
Ilustrissimo Senhor
Participo a Vossa Senhoria que no dia de hoje, 24 do corrente, sendo duas horas da tarde pouco mais ou menos, e estando-se tocando signaes pella morte do falecido Jasinto Alegria asertou a pasar Thomas Duarte e dois irmãos com huns poucos de bois diante de si e como os bois se espantarão com o toque do sino correu o dito Thomas no esceso de atirar hum tiro à igreja, não atendendo que podia matar tres rapazes pois estavão na torre adonde forão bater os quartos e chunbo que ahi vai para Vossa Senhoria ver, nem reparou no atentado que fez em atirar a hum templo como se fora a huma caza velha. Forão testemunhas o Reverendo Prior da freguezia e Rosa da Tenda, Maria Anjilla e outras muitas, he o que tenho a partisipar a Vossa Senhoria.
Sarilhos Grandes, Setembro 24
de 1844
O cabo encarregado [assinatura] Alexandre Ferreira
[FONTE: Arquivo Municipal do Montijo, Administração do Concelho de Aldeia Galega do Ribatejo, Correspondência Recebida - 1844]
コメント