A história da alimentação tem uma conexão muito forte com a identidade das pessoas, tanto que alguns investigadores reconhecem o ato de partilhar comida e cozinhar juntos como uma das etapas mais importantes da nossa evolução (Wrangham 2010). Aparentemente, passamos muito tempo ao redor do fogo, fazendo um churrasco de carne recém caçada. Será mesmo esse hábito velho de milhares de anos a razão pela qual estamos tão ligados à nossa comida?
A comida está longe de satisfazer apenas uma função biológica e o estudo do consumo de alimentos tem sido explorado de diferentes ângulos para obter informações sobre as sociedades do passado. A cultura, status, religião, sexo, comércio e tecnologia desempenham um papel importante na determinação de como os alimentos são adquiridos, distribuídos, processados e consumidos.
A ideia de estudar a dieta da população de Sarilhos Grandes surgiu justamente da forte ligação que existe entre comida e identidade. Quanto podemos contar acerca dessas pessoas se soubermos o que elas comeram? As mulheres e os homens tinham uma dieta diferente? Toda a população comia muito peixe graças à proximidade do rio e do mar? Podemos ver algum alimento exótico aparecer na sua dieta? E a comida une as pessoas? Sobre este último tópico Charles de Gaulle disse em um discurso em 1951 sobre o povo francês:
"Os franceses só serão unidos sob a ameaça de perigo. Ninguém pode simplesmente reunir um país com 265 tipos de queijo”.
Na minha experiência, trabalhando com a dieta das populações passadas, muitas vezes me surpreende as respostas mais óbvias para algumas dessas perguntas não serem necessariamente verdadeiras. Porquê? Isso ocorre porque muitas vezes esquecemos o nível de complexidade de uma sociedade. O facto de as pessoas escolherem ativamente um alimento em detrimento de outro deve-se a várias razões (sabor, prestígio, disponibilidade, idade, profissão) mas, ao mesmo tempo, as populações passadas foram muito mais afetadas pela sazonalidade dos alimentos e pelos problemas das más colheitas e mudanças climáticas. Como podemos então estudar a alimentação? Uma maneira de determinar a dieta no passado é analisando o colagénio ósseo onde as informações da dieta são armazenadas e geralmente preservadas durante séculos. Alguns indivíduos de Sarilhos Grandes foram amostrados e analisados para explorar as suas práticas alimentares com alguns resultados promissores. Está curioso para saber mais? Fique por perto!
A short story of food in the past and why do we care so much about it
The history of food is somehow strictly linked to who we are, to the extent that some researchers have indicated the act of sharing and cooking food as one of the most important steps in our evolution (Wrangham 2010). As humans we spent a lot of time around the fire, while roasting some freshly hunted meat. Is this thousand-year old custom the reason why we feel so strongly about our food?
Food is far from satisfying solely a biological function and the study of food consumption has been explored from different angles to unlock information on past societies. Culture, status, faith, sex, trading, technology are all playing an important role in determining how food is procured, distributed, processed and consumed.
The idea of studying the diet of the population of Sarilhos Grandes sparked exactly from the strong bond that exists between food and identity. How much can we tell of these people if we look at what they ate? Did women and men have a different diet? Did the entire population eat a lot of fish thanks to its proximity to the river and the sea? Can we see any exotic food appearing in their diet? And does food unite people? On this last topic Charles de Gaulle said in a speech in 1951 about French people:
‘The French will only be united under the threat of danger. Nobody can simply bring together a country that has 265 kinds of cheese’.
In my experience, working with the diet of past populations, I am often surprised that the most obvious answers to some of these questions are not necessarily true. Why? This is because we are often forgetting the level of complexity of a society. The fact that people actively choose one food over the other is due to a number of different reasons (flavour, prestige, availability, age, profession) but at the same time past populations were much more affected by the seasonality of food and the troubles of bad harvests and climate changes.
How should we go about this then? One way to look at past diet is analysing the bone collagen where information of the diet is stored and usually preserved quite well for centuries. Individuals from Sarilhos Grandes have been sampled and analysed to explore their dietary practice with some promising results. Are you curious to know more? Stick around!
Alice Toso
Bibliografia / Bibliography
Wrangham, R. (2010). Catching Fire: How Cooking Made Us Human. Profile Books.
Picture under Creative Commons License.
Comments