Os parasitas são organismos que sobrevivem retirando os nutrientes que necessitam de outro organismo designado hospedeiro. Podemos dizer que todos os seres vivos do planeta foram, estão ou serão parasitados em algum momento da sua vida. A própria vida, tal como a conhecemos, só existe por causa dos parasitas…vou explicar: as nossas células eucarióticas (ou seja as células que possuem núcleo) surgiram graças a associações parasitárias que se iniciaram há milhões de anos.
Os parasitas humanos podem viver, dependendo do tipo, no sangue ou nos nossos orgãos e, na maioria dos casos, não nos apercebemos que estão dentro de nós. A presença de um parasita pode não resultar em doença. Há, obviamente, parasitas muito agressivos que provocam sintomas e desencadeiam doenças graves podendo causar a morte dos seus hospedeiros.
A paleoparasitologia procura vestígios de parasitas em materiais antigos, ou seja, recuperados de contextos arqueológicos e paleontológicos. Desta forma descobre quais os parasitas que infetavam os nossos antepassados. De modo mais abrangente, podemos dizer que os estudos paleoparasitológicos revelam a origem e a evolução dos parasitas e das doenças a eles associadas. Podemos recuperar parasitas em corpos mumificados, em esqueletos, no solo dos sítios arqueológicos e paleontológicos, em urnas mortuárias, latrinas, entre outras estruturas antigas. Mas o material mais frequentemente estudado são os coprólitos, ou seja fezes dessecadas ou desidratadas, mumificadas ou mineralizadas que podem ser encontrados durante as escavações. Em sítios com climas secos e quentes, como nos desertos, os coprólitos conservam-se com facilidade.
Os estudos paleoparasitológicos iniciaram-se no início do século 20, mas somente nas últimas décadas se intensificaram originando grupos de pesquisa em diversos países.
A maioria das investigações realizados ocorreu em parasitas intestinais, os famosos vermes, que podem ser observados com certa facilidade utilizando-se o microscópio óptico, mas há também estudos sobre parasitas sanguíneos que necessitam técnicas mais complexas, como análises moleculares.
Por influência de Hollywood e dos seus filmes sobre catástrofes e epidemias é comum as pessoas pensarem que os parasitas recuperados em estudos paleoparasitológicos estão vivos e podem causar doenças. No entanto, os parasitas estão fossilizados e, portanto, mortos há muito tempo. Muitos destes parasitas são idênticos aos atuais outros são tão antigos que já não existem, viveram em animais como por exemplo os dinossauros, ou seja antes de existirem os seres humanos.
Podemos assim afirmar que o estudo de parasitas que viveram no passado nos ajuda a compreender a origem e a dinâmica da transmissão das doenças até à atualidade, identificando, igualmente, os grupos mais suscetíveis, o que é importante na determinação de estratégias de prevenção de parasitoses atuais e futuras.
Sugestões de leitura:
Ferreira, L., Reinhard, K. & Araújo, A. Fundamentos da Paleoparasitologia. (Editora FIOCRUZ, 2011).
Araújo, A., Jansen, A. M., Bouchet, F., Reinhard, K. & Ferreira, L. F. Parasitism, the Diversity of Life, and Paleoparasitology. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 98, 5–11 (2003).
Sanitation, latrines and intestinal parasites in past populations. (Routledge, 2015).
Dittmar, K., Araújo, A. & Reinhard, K. J. in A Companion to Paleopathology 170–190 (Wiley-Blackwell, 2012). doi:10.1002/9781444345940.ch10
Sianto, L. & Santos, A. L. Manual resumido para recolha de amostras para estudos paleoparasitológicos e de paleodieta. Cad. do GEEvH 3, 35–42 (2014).
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Parasites are organisms that survive feeding from the nutrients of another organism, usually known as host. We can say that all living beings on the planet were, are or will be subjected to parasites during their life. In fact, life as we know it is only possible due to parasites... I'll clarify: our eukaryotic cells (i.e. cells that have a nucleus) first appeared due to parasitic relationships which started millions of years ago.
Parasites hosted by humans may live on our blood and/or organs and, in most cases, we are unaware of their presence. This is because not all parasites cause illness. But there are aggressive parasites which cause symptoms e cause serious illness, which may lead to death of the host.
Palaeoparasitology looks for traces of parasites in ancient remains, specifically in archaeological and palaeontological contexts, and so unveils which parasites infected our ancestors. Overall, palaeoparasitological research reveal the origin and evolution of parasites and the diseases which they cause. Parasites may be recovered from mummies, skeletal remains, the soil of archaeological and palaeontological sites, in urns, latrines and other ancient structures. But the most commonly examined remains are coprolites, which are feces that have undergone dessication, dehydration, mummification or mineralization and that, as such, survive throughout time and may be found in archaeological/palaeontological sites during excavations. Coprolites are most common in sites with dry and warm climates, such as deserts.
Palaeoparasitological studies first started in 1910, but only during the last decades such studies became more common thus leading to multiple research centers from different countries.
Most palaeoparasitological research has examined intestinal parasites, the (in)famous worms, which may be easily identified using optical microscopes. Yet, other research studies have also examined blood parasites, but these require more complex approaches (e.g., molecular analyses).
Because of Hollywood movies about natural disasters and epidemics, people commonly think parasites recovered in palaeoparasitological studies are still alive and so may cause illness. Yet, parasites are fossilized and so long since dead. Many of such parasites are the same as those now living and others are so old that they have gone extinct and so no longer exist.. The latter lived in animals such as dinosaurs, which means millions of years before human beings first appeared.
We can, thus, say that the study of ancient parasites helps us to understand the origin and dynamics of diseases throughout time up until the present. Moreover, it also allows identification of the most susceptible groups, which is critical to devise prevention strategies of present and future parasitoses.
Suggested further reading:
Ferreira, L., Reinhard, K. & Araújo, A. Fundamentos da Paleoparasitologia. (Editora FIOCRUZ, 2011).
Araújo, A., Jansen, A. M., Bouchet, F., Reinhard, K. & Ferreira, L. F. Parasitism, the Diversity of Life, and Paleoparasitology. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 98, 5–11 (2003).
Sanitation, latrines and intestinal parasites in past populations. (Routledge, 2015).
Dittmar, K., Araújo, A. & Reinhard, K. J. in A Companion to Paleopathology 170–190 (Wiley-Blackwell, 2012). doi:10.1002/9781444345940.ch10
Sianto, L. & Santos, A. L. Manual resumido para recolha de amostras para estudos paleoparasitológicos e de paleodieta. Cad. do GEEvH 3, 35–42 (2014).
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